A revolução de Gardner

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Explicar como o ser humano aprende, sempre constituiu um enorme desafio para os pesquisadores de diferentes áreas. Filósofos, biólogos, pedagogos e psicólogos – para ficar somente nos campos mais próximos da educação – empreenderam esforços na tentativa de desenvolver modelos teóricos que dessem conta dos diferentes modos como os indivíduos aprendem. Piaget, Vygotsky, Kolb e Santrock legaram-nos importantes explicações sobre modelos de aprendizagem, mas creio que, desde a revolução piagetiana, nenhum outro estudo supera as contribuições de Howard Gardner.

Ora, sempre se observou empiricamente a multiplicidade de talentos dos seres humanos e a facilidade que alguns apresentam em aprender esta ou aquela disciplina na escola ou executar este ou aquele serviço. Em outras palavras: por que, por exemplo, um estudante domina complicadíssimos cálculos matemáticos e físicos, mas, durante as aulas de artes, é considerado um fracasso, ou, ainda, ele não consegue aprender um simples passo de dança? Por que outro estudante consegue comunicar-se muito bem em público, demonstrando o domínio da oratória, enquanto outro se recolhe mudo ante a plateia? A resposta mais frequente do senso comum para esses fatos sempre foi uma: é um dom que a pessoa tem. Logo, deduz-se, não há solução, e cada estudante precisa sobreviver nas matérias em que não é bom, enquanto sobressai naquelas que domina.

Mas, então, sobreveio uma explicação interessante: H. Gardner propôs que existem diferentes tipos de inteligências, e não uma só que possa ser mensurada por testes psicológicos. Para ele, nascemos sim com uma espécie de equipamento genético que traz as bases de todas as inteligências, as quais podem ser potencializadas ou inibidas à medida que interagimos no meio social, mas sempre haverá o predomínio de uma ou duas em relação às demais. Em sua primeira pesquisa, Gardner identificou sete tipos de inteligências (lógico-matemática; linguística; musical; espacial; cinestésico-corporal; intrapessoal; interpessoal), as quais se referem a diferentes habilidades logicamente correlacionadas ao cerne de cada uma. Assim, o indivíduo dotado de inteligência musical apresenta habilidade para compor e executar padrões musicais, seria um Hermeto Pascoal; o espacial apresenta a capacidade de mover-se com precisão, dominando a configuração espacial, seria um Neymar. E assim por diante…

Isso quer dizer que, segundo Gardner, quem nasceu para Hermeto Pascoal nunca chegará a ser Neymar e vice-versa? Em tese sim, mas também isso não configura determinismo, destino, fado, porque, para o pesquisador, a escola, principalmente, deve trabalhar a redescrição representacional das inteligências através da exploração efetiva de todas elas, de modo a desenvolver no estudante a autonomia, momento em que o aprendiz será capaz de conduzir a própria aprendizagem, adaptando-se a diferentes possibilidades e dedicando-se àquela que mais lhe aprouver. Se perceber que pode ser um Neymar, poderá trabalhar para sê-lo. Em suma, descobrir a inteligência dominante e investir nela é a chave para a autossatisfação e para o sucesso.

Prof. Dr. João Carlos Rodrigues da Silva

Docente do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Ateneu

Doutor e mestre em Linguística, especialista em Gestão Pedagógica da Escola Básica e em Língua Portuguesa e graduado em Letras

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