A gestação é um evento fisiológico normal que traz várias modificações ao organismo materno que começam na primeira semana de gestação e continuam durante todo o período gestacional. Essas modificações decorrem de intensa transformação como resposta às demandas próprias dessa fase. Nesse período, o corpo da mulher é constante e intensamente sensibilizado, o que traduz uma série de desconfortos, expressa por sinais e sintomas, que variam dependendo da tolerância de cada mulher ao desconforto e da intensidade com que eles se apresentam.
A assistência humanizada às gestantes não era praticada pelos profissionais de saúde, e só a partir da década de 1980, quando um grupo de mulheres passou a questionar as práticas obstétricas exercidas, e apresentaram propostas para humanizar este atendimento, foi que o modelo foi implantado no Brasil. Visando a melhoria da assistência ao pré-natal, parto e puerpério, foi instituída a Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011, que instituiu a Rede Cegonha, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), afirmando que esta consiste numa rede de cuidados que visa assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como à criança o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e ao desenvolvimento saudáveis.
Segundo o manual prático para a implantação da Rede Cegonha (2011), essa melhoria é proposta por meio da ampliação do acesso e da melhoria da qualidade do pré-natal, da vinculação da gestante à unidade de referência e ao transporte seguro, da implementação de boas práticas na atenção ao parto e nascimento, como clampeamento e secção tardia do cordão umbilical, estabelecimento do contato pele a pele no primeiro minuto de vida, incluindo também o direito ao acompanhante de livre escolha da mulher no pré-parto, parto e puerpério, da atenção à saúde das crianças de 0 a 24 meses e do acesso às ações de planejamento familiar.
Em relação ao vínculo da gestante à unidade que ela será referenciada, a Rede Cegonha possui na visita guiada à maternidade, um instrumento que objetiva melhorar a ansiedade das gestantes, com um conhecimento prévio do local. As visitas guiadas trata-se de uma das diretrizes do Plano de Qualificação das Maternidades do Nordeste e Amazônia Legal, do Ministério da Saúde (MS), do governo federal. A importância da visita guiada se dá porque algumas das fantasias da gestante em relação ao parto incluem o receio de não reconhecer o trabalho de parto, além do medo da dor. A mulher teme não suportá-la, sucumbir a ela e perder o controle. Teme procedimentos médicos que possam lhe causar vivências negativas (como toque vaginal, tricotomia, lavagem), além do medo do ambiente hospitalar que lhe é desconhecido e assustador, algo fora do seu contexto habitual.
Outro benefício das visitas guiadas são a possibilidade de orientações sobre assuntos relacionados à gestação, pois são observadas fragilidades nas consultas de pré-natal, evidenciados a partir dos questionamentos que emergem que devem ser abordados desde o primeiro contato da mulher na atenção primária enquanto gestante. Esse cenário permite a sugestão de que novos estudos sejam realizados para conhecer se os medos e anseios relacionados à gestação e parto estão relacionados a falta de informação durante o pré-natal.
A implementação da visita guiada ainda é um desafio tanto para a gestão como para os profissionais da Atenção Primária à Saúde, visto que demanda tempo, organização, recursos humanos e materiais e capacitação para elaborar e implementar metodologias ativas a serem trabalhadas na estratégia de educação em saúde, que é outro ponto para ser levado em consideração, pois é sugerido como complemento da visita, e que resultados exitosos são observados em se tratando de troca de experiências e conhecimentos. A atenção primária possui papel crucial na condução e articulação juntamente com as maternidades. Esse papel necessita ser resgatado, principalmente, no cenário pós-pandêmico, onde a atenção para outros eventos importantes da saúde precisam ser retomados.
Profª. Ma. Rebeca Bandeira Barbosa
Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Ateneu
Mestre em Saúde Pública, especialista em Saúde da Família e Comunidade na modalidade Residência e graduada em Enfermagem. É docente líder de Estágios Supervisionado I do Curso de Enfermagem da UniAteneu.
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