“A Semiótica, segundo Décio Pignatari, é uma ciência que ajuda a ler o mundo”. (10/06/1978, O Estado de S. Paulo).
Em um mundo dominado pela publicidade, pela mídia e pelas redes sociais, saturado de estímulos visuais, é inegável a influência da Semiótica e da linguagem visual em nossa percepção diária do mundo e das coisas que nos cercam. Somos constantemente expostos a mensagens cuidadosamente construídas para nos influenciar e moldar nossas escolhas.
Como estudo das imagens, sinais, signos e símbolos, a Semiótica desempenha um papel crucial na maneira como atribuímos significados às coisas. Cada sinal, seja ele uma palavra, uma imagem ou um gesto, carrega consigo uma carga semântica que é interpretada com base em nossas experiências e na cultura em que estamos imersos. Essa capacidade dos signos, de evocar significados, é o que torna a Semiótica tão poderosa em nossa percepção cotidiana.
No início do século XX, duas figuras importantíssimas marcaram história no mundo dessa ciência: o filósofo americano Charles Sanders Peirce e o linguista suíço Ferdinand Saussure. Este último, baseava-se em conceitos dicotomizados ou dualísticos – significante/significado, língua/palavra, denotação/conotação e paradigma/sintagma – que foram aplicados a análises de obras visuais, musicais, cinematográficas e arquitetônicas.
A linguagem visual, por sua vez, amplifica essa influência ao nos fornecer uma forma adicional de comunicação. Enquanto as palavras podem ser limitadas em sua capacidade de transmitir nuances e emoções, as imagens têm o poder de evocar sentimentos instantaneamente, transcendendo barreiras linguísticas. Um simples emoji ou uma melodia podem expressar uma gama de emoções que seria difícil de capturar apenas com palavras.
A percepção visual é espacial e global. Ela usufrui pois, essencialmente, das três dimensões espaciais, mesmo na imagem em que a perspectiva cria a ilusão de profundidade. Milhares de informações simultâneas são transmitidas num “abrir e fechar de olhos” e, mesmo que nem todas as mensagens sejam analisadas e decodificadas, são numerosas as que são registradas.
No entanto, é importante reconhecer que essa influência da Semiótica e da linguagem visual nem sempre é benigna. Os anúncios publicitários, por exemplo, muitas vezes exploram técnicas semióticas para criar associações subconscientes entre produtos e aspirações de estilo de vida, levando-nos a consumir mais do que realmente precisamos. Como afirma Belloni (2002), as mídias fazem parte do universo de socialização, participando, de modo ativo e inédito na história da humanidade, da socialização das novas gerações.
Novas linguagens surgem na paisagem audiovisual que os jovens contemplam e aprendem, sozinhos ou com outros jovens, a ler e a interpretar. Num outro contexto, Bakhtin (1997, p. 35-36) afirma que: os signos são o alimento da consciência individual, a matéria de seu desenvolvimento, e ela reflete sua lógica e suas leis. Portanto, a consciência adquire forma e existência nos signos criados por um grupo organizado no curso de suas relações sociais (BAKHTIN, 1997, p. 35).
Em suma, a influência da Semiótica e da linguagem visual em nossa percepção do mundo e das coisas, no cotidiano, é inegável. Esses elementos moldam nossa compreensão da realidade, nossas interações sociais e até mesmo nossas escolhas de consumo. No entanto, ao reconhecermos essa influência e desenvolvermos uma consciência crítica, podemos nos capacitar a interpretar o mundo de forma mais autêntica e significativa.
Prof. Neandro Vasconcelos do Nascimento
Docente do Curso de Design de Interiores do Centro Universitário Ateneu
Especialista em Ergonomia e Usabilidade e graduado em Design de Interiores. É colunista e conselheiro da Revista DIntBR, conselheiro da Associação Ceará tem Design e integrante do Conselho Acadêmico da Associação Brasileira de Designers de Interiores (ABD).
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