Reposicionamento de fármacos: uma alternativa promissora para doenças negligenciadas

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As doenças negligenciadas são uma dura realidade para milhões de pessoas ao redor do mundo. Malária, hanseníase, leishmaniose e doença de Chagas são apenas alguns exemplos de enfermidades que afetam populações vulneráveis, principalmente, em regiões de baixa renda. Essas doenças, frequentemente ignoradas pela indústria farmacêutica, não recebem o investimento necessário para o desenvolvimento de novas terapias, seja pela falta de retorno financeiro ou pelo desinteresse em populações consideradas de baixo poder aquisitivo.

Nesse contexto, o reposicionamento de fármacos surge como uma estratégia viável, acessível e cientificamente promissora para mitigar o impacto dessas doenças. O reposicionamento consiste na utilização de medicamentos já existentes para tratar condições diferentes daquelas para as quais foram originalmente desenvolvidos. Essa abordagem reduz drasticamente o tempo e o custo envolvidos no desenvolvimento de novos tratamentos, uma vez que esses medicamentos já passaram por testes de segurança e muitas vezes estão aprovados para uso clínico.

Para doenças negligenciadas, essa alternativa pode representar uma revolução terapêutica. Medicamentos comuns, como a ivermectina, usada contra parasitas, e a anfotericina B, para infecções fúngicas, têm sido investigados para aplicações em outras doenças, incluindo aquelas negligenciadas pela indústria. Um exemplo de sucesso nesse campo é o reposicionamento da miltefosina, um medicamento originalmente desenvolvido para o tratamento de câncer, que foi posteriormente adaptado para tratar a leishmaniose visceral.

Embora apresente resultados promissores, desafios como custo elevado e dificuldade de acesso ainda limitam sua distribuição em larga escala. No entanto, o seu impacto demonstra o potencial de aproveitamento de medicamentos existentes para atender demandas terapêuticas urgentes. Apesar das vantagens do reposicionamento de fármacos, essa abordagem também enfrenta desafios consideráveis. Barreiras regulatórias e burocráticas podem retardar a aprovação de medicamentos reposicionados.

Além disso, a falta de incentivos financeiros para empresas farmacêuticas investirem em novas aplicações de drogas fora de patente dificulta a expansão dessas terapias. O custo de estudos clínicos para comprovar a eficácia e segurança em novos contextos ainda é elevado, o que pode afastar potenciais investidores. Essa estratégia representa uma oportunidade de utilizar o conhecimento científico acumulado para transformar a realidade de milhões de pessoas que ainda sofrem com a negligência em saúde.

Profª. Ma. Yasmim Mendes Rocha
Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário Ateneu.
Doutoranda e mestra em Ciências Farmacêuticas, especialista em Biomedicina Estética e graduada em Biomedicina.

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