Temos uma cultura bastante enraizada de acreditar que química é prejudicial à saúde e ao meio ambiente. Frequentemente, lemos e ouvimos de leigos e até de profissionais de diversas áreas que se determinado produto tem química, ele é nocivo e deve ser evitado. Dessa forma, vale a reflexão… que ciência é essa tão perigosa a ponto de ser usada como marketing positivo, ao afirmar que determinado produto é de qualidade quando “isento de substâncias químicas”? Certamente, você já ouviu a seguinte frase: “Esse produto é inteiramente natural, sem química” ou passou em frente a um salão de beleza e se deparou com um cartaz que dizia: “Procedimento sem química”. Pois é, somos convencidos a nos manter longe dela.
Não paramos por aí. A tal da química começa a assustar ou traumatizar severamente nos primeiros anos escolares, logo na fase em que crianças e adolescentes estão explorando e descobrindo o mundo ao seu redor. Um estudo realizado com alunos de uma escola púbica do estado do Rio Grande do Norte apontou que a química é considerada pelos discentes como a disciplina mais complexa da grade curricular. No mesmo estudo, foi possível observar que não só os alunos, mas também os professores não entendem a verdadeira proposta para se estudar e ensinar química, proporcionando visões deformadas sobre a ciência (Silva et al,. 2020).
É nesse cenário que quero finalmente mostrar o quão injusto somos com uma das principais, se não a principal, ciência para a evolução da humanidade em todos os campos do conhecimento. Mas primeiro, vamos voltar ao início desse artigo e começar de novo, sem ser redundante. O que é química? É a ciência que estuda a matéria e suas transformações. O que é matéria? É tudo aquilo que tem massa e ocupa lugar no espaço. Logo, chegamos a uma rápida conclusão: a química está em absolutamente tudo. Não vou conseguir citar aqui todas as atividades que dependem diretamente de conhecimento químico, mas lá vão algumas… Indústria alimentícia, farmacêutica, petroquímica, automobilística, construção civil, cosméticos, agricultura, tecnologias, embalagens, análises clínicas, usinas nucleares, enfim, absolutamente todas as indústrias, seja ela de bens de produção, consumo ou capital, necessitam de conhecimento químico em uma ou mais etapas dos seus processos.
Agora olhe ao seu redor, fixe a sua atenção em algum produto próximo e se questione: como esse produto foi feito? Ou melhor, do que ele é feito? Todos os produtos da sua cozinha, do seu banheiro, da sua vida, de alguma forma passaram e ainda passam por algum processo químico, analisa em qual das indústrias citadas acima esse objeto se encaixa.
Para finalizar, vamos a um exercício mais prático. Quero que você concentre a sua atenção na respiração. Isso, respire fundo. O simples ato de respirar envolve uma série de mecanismos bioquímicos. Expirar o gás oxigênio contido no ar representa a nossa conexão química com o mundo exterior. Nossos corpos são usinas de milhares de reações químicas, todas conectadas umas às outras, e qualquer colapso em alguma reação, logo somos acometidos de alguma patologia, e advinha o que fazermos para se curar? Movimentamos mais reações químicas, mas o objetivo desse artigo não é ministrar uma aula de Química, mas esclarecer que não, a química não é prejudicial à saúde humana muito menos ao meio ambiente. Pelo contrário, a química é o componente fundamental para a existência de toda matéria natural, artificial e da vida na terra. Portanto, se você é um dos que considera a química prejudicial à saúde, aconselho que pare de respirar agora. Garanto que em questão de segundos, você mudará de ideia.
Prof. Dr. Ed Carlos Morais dos Santos
Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário Ateneu
Doutor e mestre em Bioquímica e Biologia Molecular e graduado em Química Industrial
Conheça o Curso de Farmácia da UniAteneu.