Os impactos positivos da amamentação para a mãe, criança e para sociedade são bastante estudados em todo o mundo. No Brasil, os percentuais verificados na Pesquisa Nacional de Saúde, em 2013, apontam uma estagnação nos indicadores de aleitamento materno (AM), com a prevalência de 52,1% de amamentação em crianças menores de 24 meses e de 36,6% de amamentação exclusiva. Apesar da tendência crescente do aleitamento materno no país, os números ainda são considerados insatisfatórios pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O uso de chupeta tem sido identificado como um fator associado à menor duração do AM. Evidências robustas mostram que o desmame precoce entre um e 24 meses é mais frequente em crianças que usam chupeta, quando comparadas com crianças que não possuem esse hábito. As recomendações para uso de chupeta variam em todo o mundo. Embora a OMS desencoraje fortemente o uso de chupetas em crianças amamentadas, a Academia Americana de Pediatria recomenda que a chupeta seja introduzida após o AM estar bem estabelecido, para a prevenção de morte súbita.
Algumas hipóteses poderiam explicar a relação entre o uso da chupeta e a menor duração da amamentação, dentre elas, a de que a introdução e o padrão de uso de chupeta (frequência e intensidade) poderiam levar o recém-nascido a recusar o peito ou aumentar o espaçamento entre as mamadas, causando um fenômeno conhecido como “confusão de bicos”. Além disso, há estudos relatando que as crianças que usam chupeta mamam com menos frequência, determinando menor produção de leite e, consequentemente, necessidade de suplementação com fórmula láctea e, por fim, ao desmame.
Outra hipótese é a de que o uso de chupeta seria uma consequência e não a causa de uma menor duração do AM. Mães que passam por dificuldade na amamentação estariam desconfortáveis e inseguras, ficando mais propensas a oferecerem chupeta a seus filhos e a desmamarem mais precocemente. Na terceira e última hipótese, a amamentação e a oferta de chupeta às crianças seriam influenciadas pelo comportamento do bebê durante a amamentação e pela forma como se estabelece a interação mãe-bebê-família. Para cada uma dessas hipóteses, é possível intervir no sentido de dar suporte às mães e suas famílias, em prol da manutenção da amamentação, informando sempre de maneira adequada e empática.
As implicações do uso de chupeta para a saúde infantil são amplamente descritas na literatura. As principais evidências encontradas sobre o efeito negativo do uso de chupeta são: alteração do desenvolvimento adequado do sistema estomatognático, comprometendo a postura e a tonicidade dos músculos. Possíveis deformações esqueléticas na boca e na face, alterando o correto funcionamento das funções orais de sucção, respiração, mastigação, deglutição e fonoarticulação. Para a dentição, todas as classificações sobre a etiologia das maloclusões consideram o uso de chupeta um fator de risco, sendo a mordida aberta anterior e mordida cruzada posterior as alterações oclusais mais frequentemente encontradas.
Além desses prejuízos, estudos apontam uma ocorrência 33% maior de otite média aguda nas crianças menores de 18 meses que utilizam chupeta. Os níveis de inteligência de crianças que fazem o uso de chupeta foram avaliados, constatando-se que os usuários de chupeta apresentaram desempenho 16% menor do que os que não usaram a chupeta na infância. A possível explicação para essa associação está ligada ao ambiente social em que a criança se desenvolve: a criança que utiliza chupeta provavelmente solicita menos atenção dos pais/cuidadores e, como consequência, é menos estimulada.
Diante das evidências disponíveis, os profissionais de saúde que trabalham com gestantes e crianças devem se posicionar frente ao tema, fornecendo informações claras e embasadas cientificamente sobre o uso de chupeta em crianças amamentadas, para que os pais se sintam seguros para fazer suas próprias opções, contando com a nossa ajuda enquanto profissionais e rede de apoio.
Referência Bibliográfica
Sociedade Brasileira de Pediatria. Guia prático de atualização: uso de chupeta em crianças amamentadas: prós e contras. Porto Alegre: SBP, 2017.
Profª. Mariana Laprovítera Teixeira Carneiro
Docente do Curso de Odontologia do Centro Universitário Ateneu
Especialista em Implantodontia e graduada em Odontologia
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