Designer de estamparia têxtil e Inteligência Artificial: como a IA está sendo inserida dentro da realidade das indústrias têxteis?

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A Inteligência Artificial (IA) e o seu desenvolvimento juntamente com outras tecnologias digitais (Chat PT / Internet das Coisas – IoT / indústria 4.0 e 5.0 / meta data de dados e etc.) que servem para a automação dos processos produtivos dentro da cadeia têxtil, tem gerado um amplo debate porque essa automatização muitas vezes pode ir rumo à possível substituição de algumas atividades humanas do setor, principalmente, dos ligados à criatividade e desenvolvimento de estamparia para tecidos e pesquisa de moda que requer uma grande demanda de capital humano.

Os donos de grandes indústrias têxteis têm avaliado com afinco a possibilidade da substituição de profissionais humanos (designer de estamparia / pesquisadores de moda / cool hunters etc) por sistemas automatizados (Adobe Firefly / Deep AI / Pics Art / DreamStudio etc.), sobretudo, na área de criação de estampas. Partindo dessa premissa e com 15 anos como designer de estamparia, especializado no mercado de moda têxtil brasileiro, proponho nesse artigo uma análise do cenário atual da inserção da IA dentro dos setores criativos da indústria têxtil e o limite de sua utilização.

A criação, na prática, de um desenho produzido por um (a) designer de estampas com domínio técnico e sensibilidade artística requer tempo e o profissional consegue criar em média até seis desenhos por dia tendo qualidade elevada, sendo muitos deles desenvolvidos manualmente e posteriormente tratados digitalmente, com o uso de softwares como o Photoshop. Essa etapa de refinamento permite agregar texturas, profundidades, efeitos visuais e nuances de cor que só as técnicas artísticas – aliadas ao repertório criativo do designer – conseguem proporcionar.

Por outro lado, temos a agilidade na produção de uma enorme quantidade de desenhos fornecidos pelas ferramentas de IA que são capazes de gerar mais de 50 variações de prints em questão de minutos, mas com limitações visíveis quanto à qualidade estética e à originalidade. A produção consegue ser ampliada em grandes escalas. Contudo, deixa a desejar nas finalizações gerando retrabalhos e aumentando a demanda por profissionais que atuam como designers na especialidade de arte-finalistas, fazendo existir dentro dos setores criativos uma dependência da mão de obra humana para gerir os erros e defeitos produtivos causados pela Inteligência Artificial na concepção das artes.

Pesquisas feitas recentemente como a de Zhang e Liu (2024), ao analisarem o uso do Midjourney no design de moda e e-commerce, identificaram que a IA funciona bem como ferramenta de apoio à prototipagem, mas ainda demanda forte supervisão humana para adequar os resultados às exigências do mercado e do consumidor. É o que mostra também a pesquisa, de cunho semelhante, conduzida por Karagoz et al. (2023), sobre geração de padrões têxteis com modelos de difusão onde demonstrou que, apesar de avanços no realismo visual, as soluções ainda carecem de sofisticação e controle de estilo que são intrínsecos ao trabalho de profissional de design. Contando ainda que, para um desenho de cunho mais artístico ser gerado, todas as inteligências artificiais, necessitam de um prompt de comando bem desenvolvido gerado a partir de mão de obra humana.

É importante compreender que a IA, ao operar com base em bancos de dados e algoritmos estatísticos, fica limitada a gerar imagens por recombinação de padrões existentes. A maioria precisa de um modelo a ser seguido, o que compromete a autenticidade e a expressão criativa em comparativo a desenhos concebidos por designers têxteis que desenvolvem estampas autorais. No campo da estamparia, onde a originalidade é o grande diferencial competitivo, essa limitação torna-se severa e acaba por gerar danos materiais à indústria têxtil, pois se um desenho produzido em rolo de tecido/base não é absorvido pelo consumidor, a peça acaba ficando parada no estoque das fábricas. A IA pode oferecer quantidades, mas não necessariamente qualidade ou inovação estética, prejudicando a imagem de empresas que apostaram alto em seu uso.

Na docência, tenho observado que a integração da IA ao processo pedagógico tem valor formativo, sobretudo, ao estimular o pensamento crítico, a autonomia e o domínio de ferramentas digitais. Contudo, é fundamental que essa tecnologia seja utilizada como extensão do processo criativo e não como substituição de competências humanas, principalmente, quando se fala do mercado exigente da Moda. Sempre rápido, criativo e acima de tudo, competitivo.

Portanto, do ponto de vista prático, artístico e pedagógico, a inteligência artificial não substitui o profissional designer de estampas na indústria têxtil. Ela deve ser compreendida e utilizada como uma ferramenta complementar, útil para acelerar rascunhos, ampliar possibilidades e explorar novos caminhos criativos, mas não para seguir, com o seu grande uso, a tentativa de substituir a sensibilidade humana que segue inigualável quando se trata de traduzir cultura, identidade, textura e emoção em desenhos que tocam o consumidor e se destacam no mercado gerando alto ticket e retorno financeiro.

Concluindo assim, as IAs são sim, hoje, ferramentas superimportantes quando se trata de ajudar a agilizar a produção de desenhos para fabricação de tecidos estampados e diferenciados, e que por enquanto está longe de ocupar o lugar do profissional designer de estamparia.

Referências

JUNG, D.; SUH, S. Enhancing soft skills through generative AI in sustainable fashion textile design education. Sustainability, v. 16, n. 16, p. 6973, 2024. Disponível em: <https://www.mdpi.com/2071-1050/16/16/6973>. Acesso em: 1 ago. 2025.

ZHANG, Y.; LIU, C. Unlocking the potential of artificial intelligence in fashion design and e‑commerce applications: the case of Midjourney. Journal of Theoretical and Applied Electronic Commerce Research, v. 19, n. 1, p. 654–670, 2024. Disponível em: <https://doi.org/10.3390/jtaer19010035>. Acesso em: 1 ago. 2025.

KARAGOZ, H. F. et al. Textile pattern generation using diffusion models. arXiv, abril 2023. Disponível em: <https://arxiv.org/abs/2304.00520>. Acesso em: 1 ago. 2025.

MEDCRAVE. Artificial intelligence in textile design: a mini review. Journal of Textile Engineering & Fashion Technology, 2023. Disponível em: <https://medcraveonline.com/JTEFT/artificial-intelligence-in-textile-design-a-mini-review.html>. Acesso em: 1 ago. 2025.

UNIVERSIDADE DO MINHO. A review in the use of artificial intelligence in textile industry. Minho: RepositóriUM, 2024. Disponível em: <https://repositorium.uminho.pt/bitstream/1822/90094/1/A%20review.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2025.

Prof. Saulo Cavalcante
Docente do Curso de Design de Moda do Centro Universitário Ateneu.
Mestrando em Administração de Empresas, especialista em Propaganda e Marketing e graduado em Design de Moda e em Comunicação Social com habilitação em Propaganda e Marketing.

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