A crescente preocupação com os impactos ambientais das construções convencionais tem impulsionado a busca por alternativas mais sustentáveis no setor da Engenharia Civil. Nesse contexto, a bioconstrução emerge como uma proposta inovadora e ao mesmo tempo ancestral, que se apoia no uso de materiais naturais, técnicas tradicionais e princípios ecológicos.
No entanto, ainda persiste uma dicotomia entre a sua valorização como técnica viável e sua associação a práticas não convencionais, por vezes vistas como artesanais ou amadoras. Diante disso, cabe refletir: a bioconstrução deve ser incorporada como uma vertente legítima da Engenharia Civil ou permanecer como um nicho alternativo?
A bioconstrução é fundamentada no uso de recursos locais e de baixo impacto ambiental, como terra crua, bambu, adobe, pedra, madeira e fibras vegetais. Essas técnicas apresentam vantagens significativas, como a redução das emissões de CO₂, menor consumo energético nos processos construtivos e elevada capacidade de integração com o meio ambiente. Além disso, quando combinadas com tecnologias de energias renováveis – como sistemas fotovoltaicos, aquecimento solar de água e captação de água da chuva –, tornam-se ainda mais relevantes em projetos de habitação autônoma e resiliente.
Contudo, o debate acerca da validade técnica e científica da bioconstrução ainda enfrenta resistências no meio acadêmico e profissional. Muitos engenheiros civis demonstram ceticismo quanto à durabilidade, resistência estrutural e conformidade normativa dessas construções. Essa postura, muitas vezes, deriva da ausência de normativas específicas ou da escassa inserção do tema nas grades curriculares dos cursos de Engenharia.
Ainda assim, pesquisas recentes têm demonstrado que, quando bem projetadas e executadas, essas técnicas podem atender satisfatoriamente a critérios de desempenho térmico, acústico e estrutural, além de promover conforto e economia de recursos. A principal barreira para a plena aceitação da bioconstrução no campo da Engenharia Civil reside, portanto, não em sua viabilidade técnica, mas em um preconceito epistemológico.
Ao rotular tais práticas como “artesanato moderno”, ignora-se o potencial transformador que elas oferecem para uma construção civil mais inclusiva, ecológica e alinhada aos objetivos de desenvolvimento sustentável. A integração entre saberes tradicionais e conhecimento técnico-científico pode gerar soluções construtivas altamente eficientes, acessíveis e adaptadas às realidades climáticas e sociais de diversas regiões brasileiras.
A Engenharia Civil, como campo de conhecimento em constante evolução, deve reconhecer na bioconstrução não apenas uma alternativa viável, mas uma necessidade diante dos desafios ambientais e sociais do século XXI. Pode-se dizer que a bioconstrução não deve ser vista como um retrocesso ou romantização da construção artesanal, mas como uma frente promissora de inovação sustentável. Ao incorporar energias renováveis e valorizar materiais naturais, ela aponta caminhos concretos para uma Engenharia Civil mais ética, eficiente e comprometida com o futuro do planeta.
Profª. Drª. Maria Estela A. Giro
Docente do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Ateneu.
Doutora em Biotecnologia, mestre e graduada em Engenharia Química. Tem experiência na área de Engenharia Química, com ênfase em Processos Bioquímicos, atuando, principalmente, nos seguintes temas: Fermentação, imobilização celular e remoção de H2S.
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