O uso racional de medicamentos: papel do farmacêutico e a adesão do paciente

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A produção de medicamentos em grande escala e o advento da indústria farmacêutica tiveram seu início em meados do século XX, especialmente, após a Segunda Guerra Mundial, o que trouxe muitos benefícios para a sociedade, aumentando expectativa de vida e proporcionando tratamento para patologias que, até então, não havia terapêutica específica. Porém, casos como o do medicamento talidomida, um sedativo que na década de 1960 foi prescrito para náuseas em gestantes e ocasionou má formação de em torno de 12 mil crianças, alertou para a necessidade que os medicamentos tem de não somente serem prescritos na indicação adequada, mas também serem utilizados de acordo com dosagem, forma farmacêutica, conhecimento e acompanhamento de possíveis efeitos adversos, além de testes pré-clínicos e clínicos que orientem a sua confiabilidade para uso na prática clínica.

Logo, todo o desastre envolvendo esse medicamento foi um dos motivos que direcionou a preocupação de órgãos sanitários para o uso adequado e racional de medicamentos, viabilizando muitos manuais de orientação que reverberaram no mundo todo e de forma muito expressiva na profissão do farmacêutico. Dentre os órgãos norteadores para política do uso racional de medicamentos, está a Organização Mundial de Saúde (OMS), que tem como conceito que o URM é: “O uso racional de medicamentos parte do princípio que o paciente recebe o medicamento apropriado para suas necessidades clínicas, nas doses individualmente requeridas para um adequado período de tempo e a um baixo custo para ele e sua comunidade”.

Nesse contexto, a profissão do farmacêutico passou por mudanças, que se caracterizam em três etapas no que tange o medicamento: uma delas anterior ao processo de industrialização, onde o profissional tinha sua principal atividade em manipular medicamentos; outra no processo de transição, no momento posterior à Segunda Guerra Mundial e nas mudanças de perspectiva sanitária sobre o uso de medicamentos, onde o profissional tinha sua atividade focada na qualidade do produto e sua inserção em estabelecimentos como a farmácia/drogaria; e a terceira etapa, já fruto do movimento de farmácia clínica e o direcionamento do profissional para o cuidado do paciente quanto ao uso adequado e racional de medicamentos, visando obter metas terapêuticas relacionadas a sua condição de saúde e ao efeito farmacológico da substância prescrita, além da atividade de educação em saúde que atualmente também é ofertada por esse profissional.

Essa atividade de educação em saúde leva em consideração, dentre outras coisas, que o medicamento é uma substância química com efeito terapêutico, mas que quando utilizada de forma inadequada, pode acarretar efeitos tóxicos, ou mesmo em não conseguir propiciar seus principais objetivos, que são a prevenção, promoção ou cura de doenças. Para tanto, faz-se necessário orientar e sensibilizar também o paciente no processo de adesão ao tratamento, através do conhecimento de sua condição de saúde, necessidade de uso adequado dos medicamentos, de acordo com horário, tempo e forma farmacêutica direcionadas para seu tratamento. Sensibilizar o paciente quanto à adesão ao tratamento é fazê-lo participar ativamente como sujeito do cuidado com sua saúde e assim, obter resultados terapêuticos muito mais efetivos e eficientes.

Para tanto, a própria formação acadêmica do farmacêutico vem passando por mudanças, com a inclusão de conhecimento sobre ciências humanas aliado ao conhecimento técnico e farmacoterapêutico, visando que possa assumir a responsabilidade de cuidado farmacêutico direcionado para o paciente quanto ao uso adequado do seu medicamento, o que melhora em efeitos de promoção de saúde, bem como na diminuição de custos, pois um uso irracional  de medicamentos pode ocasionar maior investimento e menor retorno de saúde, o que não é o objetivo de gestores e profissionais de assistência aos pacientes.

Profª. Drª. Ana Isabelle de Gois Queiroz

Docente do Curso de Farmácia da UniAteneu

Doutora e mestre em Farmacologia, especialista em Farmacologia Clínica, especializanda em Farmacologia Clínica e Serviços Farmacêuticos com habilitação em docência no Ensino Superior e farmacêutica.

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