O legado clássico na gestão: uma análise da ética aristotélica em organizações contemporâneas

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A reflexão sobre o papel da ética no ambiente de negócios é um tema recorrente e de crescente importância, sobretudo, em um cenário onde a responsabilidade social e a governança corporativa se tornam pilares estratégicos. Para o estudante de Administração compreender, a relevância da ética não se restringe a memorizar códigos de conduta, mas a internalizar princípios que moldam o caráter e a tomada de decisão. Nesse sentido, é fundamental revisitar as raízes da ética, explorando como os fundamentos clássicos dialogam com as complexidades da gestão contemporânea.

A ética clássica, notadamente a de Aristóteles [384-322 a.C.], oferece uma lente valiosa para essa análise. Em sua concepção, o objetivo final da vida humana é a eudaimonia, traduzida como felicidade ou uma vida plena; que seria alcançada por meio do desenvolvimento contínuo da virtude ou bem supremo. As virtudes para o filósofo grego não são inatas, mas hábitos adquiridos pela prática e pela busca do “meio-termo” entre dois extremos viciosos; o equilíbrio entre a falta e o excesso.

Transportando essa ideia para o contexto organizacional, a gestão virtuosa seria aquela que busca uma ponderação entre a maximização do lucro e a responsabilidade social, entre a competitividade acirrada e o respeito aos concorrentes, entre a busca por eficiência e o zelo pelo bem-estar dos colaboradores. Um gestor que age com prudência, coragem e justiça não o faz apenas por seguir uma regra, mas por ter cultivado um caráter que o inclina a agir corretamente. Essa perspectiva transcende a mera obediência a normas e fomenta uma cultura de integridade genuína e de bastante sabedoria.

Em contrapartida, a ética profissional contemporânea, embora tenha suas raízes nos preceitos clássicos, se manifesta de forma mais estruturada e formalizada. O foco migra da virtude individual para a criação de sistemas que garantam a conduta ética no coletivo. Nesse cenário hodierno, surgem os códigos de ética, as políticas de compliance e as estruturas de governança corporativa, que buscam mitigar riscos, promover a transparência e fortalecer a confiança dos stakeholders. A ética aplicada se torna uma ferramenta prática para a tomada de decisões em dilemas complexos, como conflitos de interesse, uso de tecnologia e questões de sustentabilidade. O desafio da gestão moderna é, portanto, integrar esses sistemas formais a uma cultura organizacional que valorize a reflexão ética e a eudaimonia do próprio corpo social.

A grande síntese entre a ética clássica e a profissional reside na capacidade de o gestor do século XXI atuar como um agente de mudança, incorporando o conhecimento dos antigos em suas ações atuais e diárias. O futuro profissional em gestão não pode se limitar a ser um executor de tarefas, mas deve se tornar um líder que, ao cultivar as suas próprias virtudes, inspira a equipe e a organização a agir de forma ética.

A busca por um negócio íntegro e perene não é apenas uma obrigação moral, mas uma vantagem competitiva inegável. A eudaimonia corporativa, nesse sentido, se manifesta na prosperidade da organização aliada ao seu impacto positivo na sociedade. A ética, portanto, deixa de ser um mero adereço e se consolida como o motor essencial para a construção de um ambiente de negócios mais justo e responsável.

Prof. Dr. Ricardo César de Oliveira Borges
Docente do Curso de Processos Gerenciais do Centro Universitário Ateneu.
Pós-doutor e doutor em Geografia, mestre em Administração, tem MBA em Administração e Negócios, especialista em Gestão e Didática do Ensino Superior e em Estratégia e Gestão Empresarial e graduado em Administração de Empresas.

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