Nas últimas décadas, temos vivido uma era digital, onde os atrativos, dentre os quais computadores, tablets e celulares são diversos e cada vez mais modernos. Com isso, a vida está corrida e tende-se a resolver tudo através dos dispositivos digitais, pois é mais prático e rápido. Incluso a essa vida corrida está também a criação dos filhos, onde, muitas vezes, a criança tem acesso e é exposta precocemente às telas, que são consideradas uma distração e facilitam o dia a dia, pois a criança tende a ficar quieta. Entretanto, faz-se cada vez mais necessário alertar os perigos dessa prática para o desenvolvimento infantil.
Até os três anos de idade, o cérebro da criança está em atividade máxima, chegando a realizar em torno de 1 milhão de conexões neurais a cada segundo (dados publicados pelo Centro de Desenvolvimento da Criança da Universidade de Harvard). Portanto, estes são anos gloriosos em que o indivíduo se encontra altamente sensível ao ambiente, com elevado potencial de aprendizado e assimilação, bem como está ocorrendo desenvolvimento global dessa criança, principalmente no que diz respeito à capacidade de observação e escuta, compreensão, linguagem, atenção, organização e tomadas de decisões.
Para que o indivíduo consiga alcançar seu potencial máximo dentro do referido período, ele necessita vivenciar, experienciar e explorar o meio e a interação social (de forma física e visual), especialmente, através de conversas com o cuidador. Além disso, existem os marcos referenciais do desenvolvimento infantil, que é quando a criança é capaz de realizar uma atividade considerada fundamental para cada etapa (idade). Nesse contexto, podemos citar a visão, a qual só inicia seu refinamento por volta dos três meses de idade.
Expor precocemente as crianças às telas pode ter consequências graves, uma vez que todo o processo do desenvolvimento pode ser afetado por essa exposição. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que não haja uso de telas por parte da criança até dois anos de idade.
Diversos estudos citam os perigos da exposição digital precoce, tal como o estudo realizado pelo Hospital para Crianças Doentes da Universidade de Toronto, onde os pesquisadores afirmam que 30 minutos de uso diário desses dispositivos aumenta em 49% as chances de atraso no desenvolvimento da fala. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou em 2016 um manual de orientações sobre Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital, onde cita como riscos a dificuldade de socialização, transtornos de sono e alimentação, sedentarismo, problemas visuais, auditivos e posturais, dentre outros. Esse documento é de livre acesso e pode ser encontrado no site da SBP.
Ademais, estudos realizados na área da Neurociência já comprovaram que o livre brincar tem papel essencial em diversos processos cerebrais, auxiliando na formação e consolidação de circuitos e conexões neurais. Portanto, apesar da facilidade que o uso de aparelhos digitais pode trazer para distrair a criança, ela está sendo exposta a grandes riscos. Para saber como permitir a utilização adequada e com segurança dos referidos dispositivos, o tempo de uso diário das tecnologias deve ser limitado e proporcional à idade e às etapas do desenvolvimento.
Profª. Thaís S. Frota C. Modesto
Docente do Curso de Fisioterapia da UniAteneu
Fisioterapeuta, pós-graduada em UTI Geral e UTI Neonatal e Pediátrica e mestranda em Saúde da Mulher e da Criança
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