A disseminação de lives e webinares, nesse momento de isolamento social tem sido uma oportunidade para debates e novos conhecimentos profissionais Arquitetos e Urbanistas. A tragédia de proporções globais que se abateu sobre o planeta tem colocado a comunidade científica, acadêmica e todas as esferas profissionais em estado de alerta ante às dimensões desse desafio a ser enfrentado, bem como reuniu arquitetos e urbanistas, estudantes, professores e outros interessados na discussão sobre as cidades e sua relação com o coronavírus e o que virá quando do pós-pandemia.
Por causa de todos os esforços mundialmente deflagrados terem se voltado, para desenvolverem formas de contenção ao alastramento dessa pandemia, não permitiu ter-se tempo considerável para se conjecturar sobre o futuro pós-pandêmico das sociedades e de suas dinâmicas sócio-espaciais, inseridas na produção do espaço urbano. É fato que ainda não há uma “receita” para o futuro das cidades, mas muitas ideias, reflexões e elucubrações surgiram, e a constatação de que o modelo atual está superado me parece ser um consenso geral.
Me parece lógico constatar que as cidades não fracassaram, mas que precisam de mudanças urgentes, inclusive agora, no enfrentamento do coronavírus. Devemos admitir a mais completa incapacidade das nações para lidar com uma doença em escala global, e a forma como todos foram impactados e tendo suas deficiências em relação a forma de gestão expostas e colocadas ao senso crítico da coletividade. Mas devemos observar também que em até nos maiores reveses poderemos internalizar e apreender algo de positivo, produtivo e útil. Se as cidades à primeira vista parecem ter fracassado ante a essa pandemia como a que estamos vivendo, não devemos, portanto, ter dúvidas que essas mesmas cidades serão as primeiras e terão as melhores condições para superá-la!
O papel dos arquitetos e urbanistas brasileiros no manejo e na produção da densidade das cidades, a precariedade das moradias nas periferias das cidades brasileiras e a atuação conjunta do Estado, do setor privado e da sociedade civil organizada são elementos variáveis que deveriam trabalhar direccionalmente concomitantes, mas que muitas vezes se encontram em condições de antagonismo e que potencializam e agravam o quadro de mortandade causada por essa pandemia. Precisamos ter a consciência da importância da cooperação interfederativa e das políticas públicas “conversarem” com os territórios e com os segmentos organizados da sociedade que estão atuando na prevenção do coronavírus.
A pandemia é um processo global, mas tem suas especificidades em cada território aonde se manifesta. Falo não só da pandemia, mas dela chegando nesse momento da história, nesse estágio de desenvolvimento do urbanismo, nesse momento que já era de crise – política, ambiental, civilizatória, de paradigmas!
O coronavírus, ao invadir todas as esferas da vida humana, trouxe também novas questões ou ainda não as trouxe, para as quais precisam ser construídas novos quadros de referência que não são, necessariamente, disciplinares. Não ter dados disponibilizados é não ter a possibilidade de avançar na produção do conhecimento. Infelizmente, existem questões que não foram causadas pelo coronavírus, mas que, por estarem histórica e geograficamente no território brasileiro de forma perversa, fazem com que o impacto da pandemia tenha contornos distintos no Brasil, daqueles de outros países e cidades.
Prof. Dr. Frederico Augusto Nunes de Macêdo Costa
Coordenador de Arquitetura e Urbanismo e Design de Interiores da UniAteneu
Doutor em Planejamento Urbano, mestre em Geografia Urbana, especialista em Gestão Ambiental e em Geoprocessamento Aplicado à Análise Ambiental e aos Recursos Hídricos e arquiteto e urbanista
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