No universo da moda, onde a criatividade se entrelaça com a técnica, o domínio da modelagem tridimensional, denominada moulage em francês e draping em inglês – emerge como uma habilidade essencial para profissionais que desejam se destacar. A técnica que consiste em modelar com tecidos diretamente sobre o manequim, permite uma compreensão profunda da forma, do volume e da estrutura das peças, sendo um elo direto entre o pensamento criativo, o conhecimento dos materiais e suportes e a execução prática.
O ensino da modelagem tridimensional, quando bem estruturado, não apenas aprimora habilidades manuais, mas também estimula o raciocínio espacial, a resolução de problemas e a inovação. É por meio dela que os futuros designers desenvolvem competências técnicas e sensibilidade estética para transformar ideias em produtos tangíveis.
Ao desenvolver a prática da moulage exige-se domínio técnico, percepção tridimensional e sensibilidade estética – competências que não são inatas, mas desenvolvidas por meio de treinamento e prática. Instituições de ensino superior em design de moda têm investido em laboratórios equipados e metodologias que integram teoria e prática, permitindo que os alunos experimentem, errem e aprendam com o processo.
Estudos sobre educação em moda apontam que alunos que têm contato direto com técnicas de modelagem tridimensional apresentam maior capacidade de inovação e resolução criativa de problemas. Além disso, a prática da moulage estimula o pensamento crítico, pois exige decisões rápidas sobre proporção, caimento e estrutura, em tempo real. E essas decisões rápidas também são de suma importância na criação de uma coleção e seu impacto nas vendas.
Apesar de sua importância, a moulage ainda é subestimada em algumas matrizes curriculares, sendo vista como uma técnica complementar, e não como um eixo central da formação. Essa visão limitada compromete a formação de profissionais que, ao ingressarem no mercado, enfrentam dificuldades em traduzir conceitos criativos em produtos viáveis.
Por outro lado, há quem defenda que o avanço das tecnologias digitais na moda – como o design 3D em softwares CAD/CAM – pode substituir práticas manuais como a moulage. No entanto, essa perspectiva ignora o valor do contato direto com o tecido, a experimentação tátil e a intuição que só o trabalho manual proporciona. A tecnologia deve ser vista como aliada, não substituta.
Casos como o da estilista japonesa Rei Kawakubo, fundadora da Comme des Garçons, ilustram o poder da modelagem tridimensional como ferramenta criativa. Kawakubo utiliza a técnica para criar formas esculturais que desafiam os padrões convencionais da moda. Outro exemplo é o trabalho de alunos da Central Saint Martins, em Londres, onde a modelagem sobre o manequim é parte essencial do processo de criação, resultando em coleções conceituais e inovadoras que ganham destaque internacional.
Conclui-se que a modelagem tridimensional manual é mais do que uma técnica: é uma linguagem criativa que conecta o pensamento abstrato à materialidade do produto de moda. A educação profissional desempenha papel crucial nesse processo, ao oferecer ferramentas, espaço e orientação para que os alunos desenvolvam habilidades técnicas e criativas de forma integrada.
Reafirmamos, portanto, que investir na formação prática e no ensino da moulage é essencial para preparar designers capazes de enfrentar os desafios do mercado com originalidade e competência. Para os alunos de design de moda, a recomendação é clara: mergulhem na prática da modelagem tridimensional, explorem as possibilidades dessa técnica e garantam o seu espaço como criadores que dominam tanto a arte quanto a técnica (materiais, suportes, estruturas, volumes e formas). O futuro da moda pertence àqueles que sabem moldá-lo – literalmente.
Prof. Marcelo Augusto Belisário dos Santos
Docente do Curso de Design de Moda do Centro Universitário Ateneu.
Especialista em Docência para a Educação Profissional e em Negócios de Moda e graduado em Estilismo em Moda.
Saiba mais sobre o Curso de Design de Moda da UniAteneu.
