Periodontia no Brasil: a ciência avança, mas a clínica continua parada no tempo

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Apesar dos avanços científicos que apontam para uma relação cada vez mais estreita entre saúde bucal e saúde sistêmica, a Periodontia segue sendo uma das áreas mais negligenciadas da Odontologia, tanto por profissionais quanto por pacientes. Em um cenário onde doenças periodontais afetam mais da metade da população mundial adulta, segundo a Organização Mundial da Saúde, é alarmante que a sua importância ainda seja subestimada diante das evidências que a colocam no centro das discussões sobre saúde geral.

Estudos robustos e bem fundamentados vêm demonstrando que a periodontite não é apenas uma doença local, mas um processo inflamatório crônico com repercussões sistêmicas. Já associaram a periodontite a doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, complicações gestacionais, artrite reumatoide e até demência. A inflamação gengival persistente atua como uma porta de entrada para microrganismos e citocinas inflamatórias na corrente sanguínea, agravando condições sistêmicas preexistentes ou contribuindo para o seu desenvolvimento.

Apesar desse corpo crescente de evidências, muitos consultórios ainda relegam a Periodontia ao segundo plano. Consultas preventivas são espaçadas, a anamnese médica muitas vezes é negligenciada, e profissionais continuam tratando a gengivite como uma mera inflamação passageira, quando na verdade ela pode ser o prenúncio de um comprometimento sistêmico importante. Essa desconexão entre a Odontologia clínica e a Medicina periodontal revela uma falha grave na formação e atualização profissional, além de um modelo de atendimento que ainda foca na estética e na reabilitação em detrimento da saúde de base.

A Medicina periodontal deveria ser um pilar na abordagem multiprofissional da saúde, integrando-se com a Cardiologia, Endocrinologia, Obstetrícia e outras especialidades. No entanto, enquanto persistirmos em ignorar esse elo, estaremos não apenas falhando como dentistas, mas como profissionais de saúde. A pergunta que se impõe, então, é provocadora: até quando vamos insistir em tratar bocas desconectadas de corpos? Se a ciência já mostrou o caminho, o que ainda falta para que a Periodontia seja, enfim, vista como especialidade essencial para o equilíbrio sistêmico?

Prof. Me. Pedro Jessé Lima Veras
Docente do Curso de Odontologia do Centro Universitário Ateneu.
Doutorando em Biotecnologia, mestre em Odontologia, especialista em Odontopediatria e graduado em Odontologia.

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