Estética e Moda no digital: transformações e desafios na era virtual

  • Categoria do post:Saúde
No momento, você está visualizando Estética e Moda no digital: transformações e desafios na era virtual

A revolução digital trouxe profundas mudanças nas formas de produzir, consumir e interpretar Moda e Estética. O universo on-line não apenas acelerou tendências, mas também reformulou os valores associados à beleza, diversidade e individualidade. A Internet e as mídias sociais redefiniram o papel da Moda e da Estética na sociedade contemporânea. Lipovetsky (1987) afirma que a Moda sempre foi marcada pela efemeridade e pela inovação constante, e entendemos que essas características encontraram, no ambiente digital, um território fértil.

Com a ascensão de plataformas como Instagram, TikTok e Pinterest, as tendências se disseminam globalmente em questão de segundos, diminuindo o espaço entre cada nova “trend”, o que agrada muito as novas gerações mais imediatistas, mas que também traz perigos escondidos nesse ansiar por novidades. Na visão de Bauman (2001), vivemos na “modernidade líquida”, em que a identidade é fluida e construída por meio de escolhas de consumo.

A Moda digital intensifica essa dinâmica e a Estética se mistura a tudo isso, afinal, a Internet, por meio de aplicativos diversos, permite que indivíduos experimentem diferentes estilos com filtros, avatares e até mesmo roupas virtuais em plataformas como o metaverso. Essa aparência reflete o caráter performático da Estética na contemporaneidade, algo já apontado por Goffman (1959) em sua teoria das interações sociais, onde a aparência funciona como um “cenário” para a construção do eu.

As redes sociais, na atualidade, desempenham um papel central na reformulação dos padrões estéticos. Aplicativos de edição de imagem e alguns filtros do Instagram criam versões idealizadas de rostos e corpos, muitas vezes, distantes da realidade, podendo gerar impactos psicológicos significativos, especialmente, entre os jovens, aumentando problemas como baixa autoestima e dismorfia corporal (Diedrichs et al., 2011).

Por outro lado, as mídias digitais também têm sido espaço para movimentos de resistência, lutas sociais e de inclusão. Segundo Gill (2007), as redes sociais possibilitam vozes alternativas e a promoção de novas narrativas, como o movimento body positivity, que desafia os padrões de beleza hegemônicos e celebra corpos diversos. A Moda sustentável e a Estética inclusiva também encontram terreno fértil no ambiente digital, com marcas independentes utilizando plataformas para divulgar valores contrários ao consumo desenfreado que geralmente são divulgados nessas.

Com o advento do metaverso e das tecnologias de realidade aumentada (RA), a Moda digital alcançou novos patamares. Roupas virtuais, vendidas como NFTs, e avatares estilizados representam um mercado emergente que conecta moda e tecnologia. Segundo McLuhan (1964), “o meio é a mensagem”, e no metaverso, a Moda digital não apenas comunica estilo, mas também um posicionamento tecnológico e de opiniões.

Exemplos como o desfile virtual da Balenciaga e a coleção de NFTs da Gucci ilustram como as marcas de luxo estão explorando o potencial do ambiente virtual, e a forma como os consumidores se comportam exemplifica seus ideiais e opiniões. Contudo, essa expansão digital também levanta questões éticas, como sustentabilidade (devido ao impacto ambiental do blockchain) e acessibilidade, já que muitas dessas experiências são limitadas a um público privilegiado.

O que nos leva para um dos paradoxos mais evidentes da Estética digital é a tensão entre dificuldades e idealização. Enquanto o uso de filtros e edições é criticado por criar padrões irreais, a Estética da imperfeição ganha espaço como contracultura. Autores como Sennett (2008) destacam a importância de um mundo cada vez mais artificial. A valorização do “não-polido” reflete um desejo de reconexão com o humano, o espontâneo e o real, mesmo em espaços virtuais.

No cenário da Moda, marcas como a Dove adotam campanhas que promovem imagens “sem edição”, enquanto influenciadores digitais compartilham conteúdos que mostram as imperfeições da vida cotidiana, desafiando a Estética padronizada e tornando a linguagem digital mais humanizada, afinal de contas: tem um ser por de trás das câmeras, que tem defeitos, mas que é real.

A era digital revolucionou os conceitos de Moda e Estética, tornando-os mais acessíveis, rápidos e globalizados. Ao mesmo tempo, trouxe desafios relacionados à padronização, sustentabilidade e saúde mental. A partir das contribuições de autores como Lipovetsky, Bauman e Gill, é possível compreender que o ambiente digital reflete, intensifica e, às vezes, questiona os valores culturais em torno da beleza e da moda.

Mas não precisamos enxergar a “era digital” como uma inimiga, mas como um mundo de possibilidades de aliarmos verdade e virtualidade. Mas é importante entendermos, e é essencial promovermos um diálogo crítico sobre os impactos negativos do digital na Estética, na moda e na sociedade, para que por meio desse olhar mais crítico, possamos incentivar práticas mais inclusivas, autênticas, criativas e sustentáveis. Afinal, uma verdadeira revolução estética talvez resida na capacidade de usar a tecnologia para celebrar a diversidade e a singularidade humana.

Referências Bibliográficas

  • Bauman, Z. (2001). Modernidade Líquida . Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
  • Diedrichs, PC, Lee, C., & Kelly, M. (2011). “O impacto da mídia na imagem corporal: uma meta-análise”. Body Image Journal .
  • Gill, R. (2007). Gênero e a mídia . Cambridge: Polity Press.
  • Goffman, E. (1959). A Apresentação do Eu na Vida Cotidiana . Nova Iorque: Anchor Books.
  • Lipovetsky, G. (1987). O Império do Efêmero: A Moda e Seu Destino nas Sociedades Modernas . São Paulo: Companhia das Letras.
  • McLuhan, M. (1964). Compreendendo a mídia: as extensões do homem . Nova York: McGraw-Hill.
  • Sennett, R. (2008). Ó Artífice . Rio de Janeiro: Record.

Profª. Ma. Fernanda Farias Vasconcelos Kreitlow
Docente do Curso de Design de Moda do Centro Universitário Ateneu.
Doutoranda em Design de Moda, mestra em Gestão de Negócios Turísticos, especialista em Styliste Coloriste Infographiste, graduanda em Artes e graduada em Design de Moda.

Saiba mais sobre o Curso de Design de Moda da UniAteneu.