A campanha nacional “Setembro Amarelo” embasa-se nos cuidados com a saúde mental, com destaque à prevenção do suicídio. Ano após ano, notícias são publicadas informando o alto índice de atentados contra a própria vida e não há um perfil definido: os acometidos por ideação suicida, ou o suicídio em si, são homens, mulheres, idosos, adolescentes, trabalhadores, desempregados, pessoas de todas as classes sociais e origens.
Dados do site do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022) apontam que a Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou em 2021 que o suicídio é uma das principais causas de morte no mundo, sendo atingido o número de 700 mil óbitos ocasionados por esse fenômeno de amplitude global. Para o Centro de Valorização da Vida (CVV) (2023), a manifestação do ato suicida apareceu dentre o público com faixa etária entre 15 e 29 anos como quarta causa de morte, após acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal.
Destarte, a academia (ensino superior), enquanto espaço formativo, não foge à incidência, sendo cenário que tem emergido casos que figuram diversos gatilhos, apontados como protagonistas desse ato extremo contra a vida. Para o CVV (2023), “a fase de transição da escola para a universidade é complicada, principalmente, para aqueles que têm dúvidas sobre qual rumo dar para a vida. A pressão sobre a fase adulta frequentemente chega nessa etapa e a saúde mental acaba sendo prejudicada”.
Silva e Dote (2023) abordam que “dar visibilidade à felicidade no ensino superior é destacar no espaço acadêmico um fator essencial: a subjetividade do ser humano. Cada indivíduo adentra a academia com seus objetivos e metas, tem que cumprir requisitos e obrigações típicas desse processo, mas isto não deve ser uma sequência de autoflagelamento, tampouco de angústia”.
Ao longo desse percurso, gestores educacionais, professores e comunidade acadêmica devem apreender limites próprios que não condicionem inquietude e adoecimento, ao passo que precisam estar atentos aos sinais que um indivíduo ou outro pode manifestar como sinal de alerta para que sejam tomadas atitudes preventivas e norteadoras de cuidado (ou autocuidado).
Mediante a pressão por metas, rendimento e manutenção de currículo, é necessário se trabalhar com o autoconhecimento e uma rede de apoio capaz de suprir as necessidades físicas, psíquicas, emocionais e sociais que existem como elementos inerentes ao convívio. Praticar exercícios, ter um hobbie ou momentos para não se fazer nada, são apenas algumas das estratégias para aliviar tensão, ansiedade e demais expressões de possam ocasionar adoecimento mental.
Informações presentes na mídia registram lamentáveis mortes ocorridas por suicídio, como o caso de um jovem, vítima de racismo e bullying, que pulou de um prédio no Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (USP) em 2021 (IG, 2021) ou de outro discente que tirou a própria vida durante apresentação de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Salvador, segundo a revista Pragmatismo Político (2022).
Esses são apenas dois dos muitos casos de estudantes do ensino superior que cometem suicídio diante de adversidades que corrompem o bem-estar, em suas múltiplas nuances, o que nos leva a refletir sobre o tipo de relações que construímos nesse espaço formador e transformador e a promover diálogos de prevenção e combate ao suicídio perenes, que ultrapassem a massificação setembrina da campanha mencionada, pois esse é um fenômeno recorrente com ocorrência em todos os meses do ano.
Um ponto de observação nesse artigo é que precisamos ter em mente que a excelência acadêmica deve estar alinhada à formação de indivíduos capazes de seguir um caminho de trocas saudáveis em sua profissão e na vida e, enquanto discente, há de se encarar esse processo com leveza e proveito, sem tensões que tornem algo que deveria ser bom, num percurso doloroso e exaustivo, distante da realização que se busca.
Amiúde, Silva e Dote (2023), inferem que “a construção do conhecimento perpassa as vivências individuais e grupais em espaços coletivos, onde o saber não deve ser sobreposto à humanidade, e sim, somar-se a ela”. Nesse sentido, somos convidados a promover um ensino libertador, transformador, capaz de trazer à luz uma sociedade com melhores perspectivas de futuro e profissões mais envolvidas com o ser humano, muito mais do que com resultados exclusivos. Isso pode ser um fator decisivo nas relações acadêmicas em formação.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Anualmente, mais de 700 mil pessoas cometem suicídio, segundo OMS. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/setembro/anualmente-mais-de-700-mil-pessoas-cometem-suicidio-segundo-oms>. Acesso em: 04.set.2023.
CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA. Falando abertamente sobre suicídio (Cartilha). Disponível em: <http://www.cvv.org.br/downloads/falando_abertamente_sobre_suicidio.pdf>. Acesso em: 04.set.2023.
PRAGMATISMO POLÍTICO. Morte de jovem durante apresentação de TCC provoca revolta de colegas: “Justiça por Guilherme”. Disponível em: <https://www.pragmatismopolitico.com.br/2022/07/morte-de-jovem-durante-apresentacao-de-tcc-provoca-revolta-de-colegas-justica-por-guilherme.html>. Acesso em: 04.set.2023.
SILVA, E. L.; DOTE, K. C. B. Felicidade na academia como forma de superação de aspectos nocivos vivenciados em um curso de mestrado. Anais do I Workshop Brasileiro de Produção Científica em Ciências da Saúde. Campo Grande: Inovar, 2023.
ÚLTIMO SEGUNDO. Estudante negro vítima de racismo se suicida dentro da USP. Disponível em: https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2021-06-03/estudante-negro-vitima-de-racismo-se-suicida-dentro-da-usp.html. Acesso em: 04.set.2023.
Prof. Ediney Linhares da Silva
Docente do Curso de Serviço Social do Centro Universitário Ateneu
Mestrando em Ensino na Saúde, tem MBA Executivo em Saúde, é especialista em Políticas Públicas, Gestão e Serviços Sociais, em Gestão da Educação e em Dança e Educação e graduado em Serviço Social
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