O “agora” da profissão docente

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O educador do amanhã surgiu antecipadamente nesse “novo normal”.

Muitas escolas, timidamente, nos últimos dez anos, começaram a incorporar novas tecnologias de ensino, em especial, às tecnologias digitais, na intenção de mudar a maneira tradicional da aula expositiva e dessa forma criar experiências que pudessem transcender o nosso ensino ainda tão tradicional. Inesperadamente, fomos surpreendidos por uma crise mundial, na área da Saúde, com o surgimento de uma doença mortal, que foi chamada de Covid-19, pois ela é causada pelo coronavírus, denominado Sars-CoV-2, que apresenta um espectro clínico variando de infecções assintomáticas a quadros graves, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Tal crise nos levou a ter que viver “um novo normal”, de forma a precisarmos ficar isolados, afastados socialmente, de quarentena, em nossas casas, por um longo período. Do primeiro país atingido até chegar ao Brasil, já são oito a nove meses nesse “novo normal”, esperando uma vacina para essa doença letal, mas a economia no mundo, em nosso país, em nossa região, e principalmente, no nosso estado, não pôde parar, muito menos a educação. E claro, a Educação, assim como muitas outras áreas precisaram, “foram obrigadas”, a se reinventar. As aulas presenciais viraram remotas. A educação a distância virou mais que uma realidade, virou a única opção, para todas as instituições de ensino: da educação infantil ao nível superior, para continuar funcionando e cumprindo o seu papel dentro da sociedade.

Ao longo das últimas décadas, muitos estudiosos ofereceram à Educação métodos e técnicas de ensino que pudessem tornar as aulas dos discentes do século XXI mais atrativas, que pudessem acompanhar a visão de mundo deles, já tão tecnologicamente digital. Porém, um estudioso em especial, o professor Celso Antunes, tem dedicado a sua vida inteira a compreender os desafios da educação no Brasil. Ele é autor de mais de 180 livros ligados a questões de ensino, e em muito dos seus discursos lamenta o quanto a capacitação do professor brasileiro esteja a “anos-luz de distância dos países em que a educação é o cerne de uma nação”. Podemos citar, por exemplo: a Finlândia, a Dinamarca, a Singapura entre outras.

Podemos perceber que o maior desafio cabe aos docentes, pois estes precisam entender e superar as dificuldades encontradas pelos alunos para que estes mantenham o interesse no aprendizado. Porém, sem apoio dos grandes responsáveis pela educação: governo, órgãos de educação e instituições de ensino torna-se muito maior esse desafio para o educador. Vale ressaltar que, se os nossos professores continuarem como núcleo do processo educativo, sendo apenas “dadores de aulas”, transmitindo conhecimentos acumulados, estes serão sugados pelo mundo digital, substituídos pelas redes sociais ou quaisquer sites informativos disponíveis no mundo da Internet, com seus vídeos e notícias sempre “a mão”. Serão trocados, inclusive, pela inteligência artificial.

De outra forma, a melhor opção para termos um ensino de qualidade está focada em ofertar aos professores formações continuadas, sempre voltadas para o momento presente, para o ensino que nossos alunos almejam, e que os tornarão mais motivados a aprender, diante de tanta informação e atrativos tecnológicos, para que desenvolvam seus intelectos de forma leve e com maestria. É nesse contexto atual, das facilidades tecnológicas, que os docentes precisam conhecê-las para que possam utilizá-las visando aprendizagens significativas para seus alunos.

Desta forma, de acordo com Antunes, em suas inúmeras citações, e em seus discursos como membro e fundador da entidade “Todos Pela Educação”, acredita-se que a instituição escolar é a principal responsável no investimento de capacitação do profissional docente. Independente se ele for parte da escola pública ou privada. Porém, o ideal seria que pudesse existir uma parceria entre instituição de ensino e professores, na qual a escola, compreendendo a necessidade de seus alunos, fosse capaz de ofertar formações aos professores voltados para a realidade que se apresenta hoje no mundo.

Outra realidade que a sociedade nos apresenta, e que não podemos deixar excluído, são as questões socioemocionais. Nunca precisamos tanto de humanização, de vivermos em sala de aula, o que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) cita em suas 10 competências gerais para Educação Básica, em especial, as competências oito e nove[1]. Desta forma, para que a parceria seja completa, o educador precisa ter a sensibilidade para compreender essas questões socioemocionais, e também estar disponível para aprender e persistência para conhecer tantas ferramentas tecnológicas no mundo digital, tais como: aplicativos, games, plataformas, realidades virtuais, aumentadas e mistas, espaços makers, como também diferentes tipos de metodologias, como as metodologias ativas (sala de aula invertida, team-based learning, etc.). Deste modo, o discente tornar-se-á o protagonista de seu aprendizado.

Enfim, cabe a reflexão de que não só os professores, mas todos os envolvidos no processo educacional precisam absolver todas essas questões e colocá-las em práticas. E isso só será possível se todos os membros responsáveis pela educação trabalharem em parceria, a saber: governo, órgãos educacionais, instituições de ensino, docentes e toda comunidade escolar. Só então, poderemos acreditar que a educação em nosso país será de qualidade, e poderá chegar ao rank mais alto e ficar entre as melhores escolas do mundo.

REFERÊNCIAS

ADMGRUPO2. Celso Antunes e o movimento “Todos pela Educação”. Disponível em: https://admbrasileira.wordpress.com/2017/07/17/celso-antunes-e-o-movimento-todos-pela-educacao/ Acesso em: 03/09/2020.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base nacional comum curricular. Brasília, DF, 2016. Disponível em: < http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/inicio>. Acesso em: 03/09/2020.

Metodologias ativas no espaço maker: 4 estratégias para transformar o aprendizado. Disponível em: https://naveavela.com.br/metodologias-ativas-e-espaco-maker/. Acesso em: 03/09/2020.

Profª. Sílvia Leticia Martins de Abreu

Docente do Curso de Pedagogia da UniAteneu

Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, em Didática no Ensino Superior e em Administração Escolar, tem MBA em Gestão e Negócios e é graduada em Letras

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[1] 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.